Superliga Feminina 24/25: a importância da primeira bola

 

 

          De há muito o sistema de ataque 5x1, como todos sabem, é o utilizado por quase a totalidade das equipes de voleibol. Em função dessa configuração, a dinâmica do jogo levou o voleibol moderno a compor as equipes com dois atacantes centrais, dois ponteiros, um levantador e um oposto. Também é sabido por todos, que em virtude das exigências táticas ofensivas, os centrais são preservados da obrigatoriedade de participarem das formações para a recepção de saques: quando estão no ataque são posicionados próximos da rede e, estando no fundo da quadra, são substituídos pelos líberos.

 

          Também são preservados na recepção, os opostos, estando na rede ou no fundo, pois têm a função primordial de atacar. Ao contrário dos centrais, eles são mantidos na quadra nas seis passagens do rodízio, mas sempre posicionados fora das formações para a recepção de saques, para estarem protegidos por elas e estarem livres para se preparem para atacar.

 

          A necessidade de preservar os centrais e os opostos na recepção, trouxe para os ponteiros e líberos a responsabilidade de compor a linha de passe. Essa armação para a recepção é composta por apenas três atletas, na maioria das vezes – dois ponteiros e o líbero. Na escolha dos ponteiros, as equipes comumente escalam um deles como sendo o de finalização (ótimo no ataque e razoavelmente eficiente no passe e na defesa), e o outro de composição (ótimo no passe e na defesa e razoavelmente eficiente no ataque).

         

          Ao distribuírem os três atletas para as suas formações para a recepção de saque e otimizar os sideouts, a cada um deles é determinada uma área sob sua responsabilidade, que possui normalmente diferentes tamanhos, dependendo da capacidade de performance de cada um, suas funções táticas, e se estão no ataque ou na defesa. O posicionamento e as características dos sacadores adversários também determinam as áreas de responsabilidade de cada um dos passadores.

 

          Os líberos sempre cobrem uma região maior ou mais visada pelos usos táticos dos saques por parte dos adversários. Entre os ponteiros, ao de composição é determinada uma área maior que aquela dada ao finalizador, principalmente quando ele estiver na rede. Isso criou uma linha que forma a recepção de saque conhecida por 2,5 (dois e meio), onde o líbero e o ponteiro de composição têm a responsabilidade de cobrirem duas partes e meia da quadra, cabendo ao ponteiro finalizador uma região menor, ou seja apenas metade daquilo que seria uma parte inteira.

 

          Essa pequena exposição da tendência das armações das equipes no voleibol atual, foi feita para entendermos as tomadas de decisões que treinadores de algumas das melhores equipes femininas do Brasil tomaram nas disputas finais da Superliga 24/25, e que foram determinantes para os resultados finais das disputas.  

 

          Na fase classificatória, o Praia Clube e o Minas TC se classificaram em primeiro e segundo lugares, respectivamente, tornando-se as equipes favoritas para o título de 2025. Disputaram as semifinais: o Praia Clube contra Sesi-Bauru, enquanto o Minas TC enfrentou o Osasco.

 

          O Praia armou seu time titular sem ponteiras passadoras e o mesmo ocorreu com o Minas. No Praia a linha de passe era composta pela líbero Natinha e pelas ponteiras Kuznetsova e a americana   Payton Caffrey, enquanto no Minas pela líbero Kika e pelas ponteiras Glayce e Penha. 

Ao enfrentarem, nas semifinais o Sesi Bauru e o Osasco respectivamente, ficou evidenciado que as decisões de seus treinadores, de prescindirem de ponteiras passadoras e de composição, foram equivocadas.

 

          Enquanto o Sesi Bauru contava com a eficiente Kasiele como ponteira de composição e a Acosta de finalização, a equipe de Osasco teve a talentosa Maira como ponteira de composição e a Natália de finalização. Maira e Kasiele, auxiliadas por suas líberos, Léia e Camila Brait, deram às suas equipes, não somente passes de qualidade na recepção de saques, mas também muita robustez defensiva. A eficiência das primeiras bolas, nas ações dessas equipes, possibilitou que elas realizassem sideouts e contra-ataques com as participações de suas atacantes centrais, o que além de facilitarem o trabalho das atacantes de extremidades, dificultava em muito as ações de bloqueio e defesa adversárias.

 

          Tanto o Praia quanto o Minas apresentaram dificuldades ofensivas por falta de primeira bola, o que levou as suas atacantes de extremidade a serem muito marcadas pelos sistemas defensivos adversários. Elas, muitas vezes não contaram com o apoio das ações das suas centrais, anuladas por falta de bons passes às suas levantadoras.  Monique Pavão, e Pri Daroit poderiam minimizar, em muito, essas dificuldades para o Praia e para o Minas, respectivamente, como realmente o fizeram em algumas oportunidades durante a competição. Pri Daroit poderia ter minimizado em muito, essas dificuldades para o Minas, enquanto Monique Pavão, que foi utilizada como oposta reserva, participando da recepção, tem fundamentos de qualidade suficiente para ter sido uma ótima ponteira de composição para o Praia.

 

          Para se ter a noção exata da importância da primeira bola no voleibol atual, deve-se lembrar que a  equipe do Sada-Cruzeiro no masculino, conquistou seus títulos mais importantes da temporada 2025 – Mundial de Clubes e Superliga, utilizando, nas partidas decisivas, dois ponteiros de composição –  Vacari e Rodriguinho, juntos, como titulares. Não por acaso o central Lucão foi eleito MVP da superliga masculina, e ganhou o troféu Viva Vôlei da partida final.

 

          Conforme afirmou o técnico Daniele Santarelli em Congresso de Voleibol em Lisboa em maio de 2025, para se alcançar um ótimo terceiro toque, precisamos de qualidade no primeiro e no segundo toques, e para tanto, o treino de recepção é diário nas suas equipes. A defesa também é primordial.